Queria poder ter escrito sobre as muitas sensações que a gravidez me trouxe. Tinha criado até este espaço, mas travei completamente. Apesar do apoio contínuo de Leo, apesar de não ter tido nenhum problema real se configurando, me senti doente e desestimulada durante boa parte das 40 semanas em que Antonio esteve dentro de mim. Agora, me deu vontade de contar do parto. De um momento que pra mim foi especial e mágico, e que eu quero partilhar do jeito falho que puder - porque palavras não devem dar conta desse sentimento...
As contrações começaram do domingo, sete, para a segunda, oito de outubro. Mas o trabalho de parto, a preparação para o parto em si, vieram de muito antes. Começaram no momento em que tive de procurar um obstetra quando, ainda em janeiro, soube que estava grávida.
As contrações começaram do domingo, sete, para a segunda, oito de outubro. Mas o trabalho de parto, a preparação para o parto em si, vieram de muito antes. Começaram no momento em que tive de procurar um obstetra quando, ainda em janeiro, soube que estava grávida.
De posse do meu livrinho do plano de saúde fuleiro, liguei pra minha amiga Paula Viana, membro da Rede de Humanização do Nascimento e referência desde sempre quando o assunto é gravidez. “Leila Katz”, disse ela sem nem ler a lista. Mas meu livrinho só continha nomes de desconhecidos e o plano de saúde não fazia reembolso de consultas. Leo tinha acabado de chegar em Recife, estava desempregado, o bebê não era planejado e a gente não tinha idéia de onde tirar dinheiro para os inúmeros gastos que tinha pela frente. Resolvemos nos virar com os médicos conveniados...
Foi aí que começou a novela. O primeiro médico nos disse que não atendia pacientes obstétricos pelo meu plano, que pagava mal e ainda por cima tinha muitos usuários e poucas vagas disponíveis nos hospitais. Começamos a ficar assustados.
Foi aí que começou a novela. O primeiro médico nos disse que não atendia pacientes obstétricos pelo meu plano, que pagava mal e ainda por cima tinha muitos usuários e poucas vagas disponíveis nos hospitais. Começamos a ficar assustados.
A segunda médica tinha acompanhado a gravidez de uma amiga e foi descrita como ótima, maravilhosa, sensacional. “Só não tivemos parto normal porque a nenê estava laçada”, contou minha amiga. E eu, que não sabia ainda que essa é a desculpa mais comum pros médicos fazerem cesáreas sem necessidade, embarquei na onda. Coitada da minha amiga que até hoje acha que ela é o máximo, e ainda sofreu complicações com a anestesia...
A tal obstetra não era exatamente ruim: deu o telefone de casa, o celular, se deixava incomodar a qualquer hora. E isso foi essencial pra mim porque descobrimos, na primeira ultrassom, que eu estava com um pequeno descolamento de placenta. Acabei obrigada a ficar em casa, tomando doses maciças de progesterona, faltando ao trabalho e sem receber meu salário por mais de um mês, porque o INSS não marcava a perícia. Tempos de liseu, tempos de estresse total. Leo em casa tomando conta de mim, e eu que inicialmente não tinha aceitado bem a idéia de uma gravidez, descobrindo que que queria muito que esse bebê vingasse. Foi só aí, por ironia do destino, que eu comecei a contar à maioria dos conhecidos que estava grávida. Foi só então que comecei a pensar num nome pro bebezinho e torcer pra que ele ficasse forte e saudável dentro de mim.
Superado o problema do descolamento, e após ter assumido para mim mesma que desejava muito ter esse filho, comecei a entrar em tudo que foi comunidade do Orkut sobre gravidez e amamentação. Entrei em contato com minha amiga carioca Ingrid Lotfi, que faz parte de um grupo que eu freqüentava no Rio, os Sambamantes, e também é doula e moderadora de uma lista de discussão via emails chamada Parto Nosso. Ingrid me passou alguns telefones das meninas ligadas à rede Parto do Princípio – mais especificamente, de Marina, de Julia e de Daniela. Eis então que um dia, saltei de pára-quedas numa reunião do grupo para casais grávidos Boa Hora, lá na Várzea.
A tal obstetra não era exatamente ruim: deu o telefone de casa, o celular, se deixava incomodar a qualquer hora. E isso foi essencial pra mim porque descobrimos, na primeira ultrassom, que eu estava com um pequeno descolamento de placenta. Acabei obrigada a ficar em casa, tomando doses maciças de progesterona, faltando ao trabalho e sem receber meu salário por mais de um mês, porque o INSS não marcava a perícia. Tempos de liseu, tempos de estresse total. Leo em casa tomando conta de mim, e eu que inicialmente não tinha aceitado bem a idéia de uma gravidez, descobrindo que que queria muito que esse bebê vingasse. Foi só aí, por ironia do destino, que eu comecei a contar à maioria dos conhecidos que estava grávida. Foi só então que comecei a pensar num nome pro bebezinho e torcer pra que ele ficasse forte e saudável dentro de mim.
Superado o problema do descolamento, e após ter assumido para mim mesma que desejava muito ter esse filho, comecei a entrar em tudo que foi comunidade do Orkut sobre gravidez e amamentação. Entrei em contato com minha amiga carioca Ingrid Lotfi, que faz parte de um grupo que eu freqüentava no Rio, os Sambamantes, e também é doula e moderadora de uma lista de discussão via emails chamada Parto Nosso. Ingrid me passou alguns telefones das meninas ligadas à rede Parto do Princípio – mais especificamente, de Marina, de Julia e de Daniela. Eis então que um dia, saltei de pára-quedas numa reunião do grupo para casais grávidos Boa Hora, lá na Várzea.
Era uma situação meio esquizofrênica, porque eu estava sendo acompanhada por uma médica que eu sentia que não era partidária do parto normal e de repente me vi cercada de gente “radical”, muitos dos quais queriam parir em casa mesmo e defendiam a idéia com unhas e dentes. Logo num dos primeiros encontros, Dan passou um vídeo que mostrava uma mexicana parindo em família, dentro d’água. E eu sentia Leo arisco, sem querer discutir o assunto.
Acho que a gestação foi um período bem difícil pra Leo, também. Além de estar numa cidade nova, recém-chegado e recém-casado, tinha que enfrentar o fato de estar sem emprego e lidando com uma mulher pululando de hormônios e insegurança. Ele engordou mais de dez quilos e teve desejos alimentares estranhos. A referência de gravidez que tinha era a da mãe, que quase morreu de eclampsia quando ele tinha dez anos. Tinha um medo absurdo de que eu saísse sozinha, fizesse esforço, passasse mal. Um dia, explodiu chorando e confessou com todas as letras seu medo de que eu viesse a morrer no parto. Talvez por isso preferiu, durante muito tempo, que eu fizesse uma bendita cesárea eletiva e bem programadinha; talvez por isso fosse tão resistente à idéia de freqüentar o grupo de casais – alguns dos quais insistiam na idéia de que tivéssemos o bebê em casa. Como era no horário em que eu trabalhava dando aulas, fui a poucas reuniões – talvez cinco, seis? Destas, ele foi a umas três, se muito. Sempre reclamando que era longe e que eu não devia ficar pegando ônibus, grávida. No grupo, de qualquer jeito, eu comecei a expor os meus anseios sobre a médica que me atendia e que fugia do assunto, toda vez que eu começava a falar sobre minha vontade de ter parto normal. “Não é hora de falar sobre isso”, dizia ela, no auge dos meus seis meses de gravidez. E eu pensava comigo mesma, “se não é hora agora, quando vai ser?” Acabei escolhendo uma outra médica da lista do plano e marcando consulta, pensando em mudar de obstetra. Foi trocar seis por meia dúzia: ela me viu acima do peso, operada de gastroplastia, e afirmou que eu deveria fazer cesárea de qualquer jeito, porque “não teria condições de fazer força com os músculos da barriga”. Me disse que eu tinha uma separação entre os feixes de músculos – uma “diástase” – e me acenou com um vale-brinde: faria uma espécie de plástica restauradora ainda durante o parto, aproveitando a incisão. Não mencionou o fato, claríssimo até para mim que sou leiga, de que operar uma barriga distendida pela gravidez não deveria dar um resultado muito promissor...
Desisti de trocar de obstetra porque, no dia seguinte, tive uma dorzinha nas costas e, ao recorrer à emergência de um hospital, a médica de plantão achou por bem fazer um “toque” em mim. O exame foi feito com tal delicadeza que passei três dias sangrando. A dor foi tanta e o medo de abortar foi tamanho, que minha pressão subiu instantaneamente – motivo pela qual a tal profissional me recomendou tomar umas injeções para maturar os pulmões do bebê, para prevenir-se contra a minha “eclampsia”. Desesperada, tentei falar com a nova médica por telefone, sem sucesso. No dia seguinte – era uma terça – ela atendeu, meio mal-humorada, e disse que só estaria disponível para me ver, se fosse o caso, na sexta seguinte. Prontamente, liguei para a obstetra anterior, que me tranqüilizou e atendeu de uma forma mais adequada.
Ou seja, voltei à estaca zero...
A obstetra que ficou me acompanhando prosseguiu fazendo um trabalho meio terrorista, minando minha autoconfiança. De acordo com ela, eu seria um caso complicadíssimo – obesa, gastroplastizada, primípara com mais de 30 anos. Para reforçar, pessoas de minha própria família, sem nenhuma formação médica e com boa intenção mas péssimo resultado, vinham me dizer que eu só poderia parir através de cesárea, por conta dos “meus problemas”. Uma delas chegou a perguntar se eu não iria ligar as trompas após Antonio nascer, uma vez que – em sua visão – era muito arriscado eu ter filhos.
Acho que a gestação foi um período bem difícil pra Leo, também. Além de estar numa cidade nova, recém-chegado e recém-casado, tinha que enfrentar o fato de estar sem emprego e lidando com uma mulher pululando de hormônios e insegurança. Ele engordou mais de dez quilos e teve desejos alimentares estranhos. A referência de gravidez que tinha era a da mãe, que quase morreu de eclampsia quando ele tinha dez anos. Tinha um medo absurdo de que eu saísse sozinha, fizesse esforço, passasse mal. Um dia, explodiu chorando e confessou com todas as letras seu medo de que eu viesse a morrer no parto. Talvez por isso preferiu, durante muito tempo, que eu fizesse uma bendita cesárea eletiva e bem programadinha; talvez por isso fosse tão resistente à idéia de freqüentar o grupo de casais – alguns dos quais insistiam na idéia de que tivéssemos o bebê em casa. Como era no horário em que eu trabalhava dando aulas, fui a poucas reuniões – talvez cinco, seis? Destas, ele foi a umas três, se muito. Sempre reclamando que era longe e que eu não devia ficar pegando ônibus, grávida. No grupo, de qualquer jeito, eu comecei a expor os meus anseios sobre a médica que me atendia e que fugia do assunto, toda vez que eu começava a falar sobre minha vontade de ter parto normal. “Não é hora de falar sobre isso”, dizia ela, no auge dos meus seis meses de gravidez. E eu pensava comigo mesma, “se não é hora agora, quando vai ser?” Acabei escolhendo uma outra médica da lista do plano e marcando consulta, pensando em mudar de obstetra. Foi trocar seis por meia dúzia: ela me viu acima do peso, operada de gastroplastia, e afirmou que eu deveria fazer cesárea de qualquer jeito, porque “não teria condições de fazer força com os músculos da barriga”. Me disse que eu tinha uma separação entre os feixes de músculos – uma “diástase” – e me acenou com um vale-brinde: faria uma espécie de plástica restauradora ainda durante o parto, aproveitando a incisão. Não mencionou o fato, claríssimo até para mim que sou leiga, de que operar uma barriga distendida pela gravidez não deveria dar um resultado muito promissor...
Desisti de trocar de obstetra porque, no dia seguinte, tive uma dorzinha nas costas e, ao recorrer à emergência de um hospital, a médica de plantão achou por bem fazer um “toque” em mim. O exame foi feito com tal delicadeza que passei três dias sangrando. A dor foi tanta e o medo de abortar foi tamanho, que minha pressão subiu instantaneamente – motivo pela qual a tal profissional me recomendou tomar umas injeções para maturar os pulmões do bebê, para prevenir-se contra a minha “eclampsia”. Desesperada, tentei falar com a nova médica por telefone, sem sucesso. No dia seguinte – era uma terça – ela atendeu, meio mal-humorada, e disse que só estaria disponível para me ver, se fosse o caso, na sexta seguinte. Prontamente, liguei para a obstetra anterior, que me tranqüilizou e atendeu de uma forma mais adequada.
Ou seja, voltei à estaca zero...
A obstetra que ficou me acompanhando prosseguiu fazendo um trabalho meio terrorista, minando minha autoconfiança. De acordo com ela, eu seria um caso complicadíssimo – obesa, gastroplastizada, primípara com mais de 30 anos. Para reforçar, pessoas de minha própria família, sem nenhuma formação médica e com boa intenção mas péssimo resultado, vinham me dizer que eu só poderia parir através de cesárea, por conta dos “meus problemas”. Uma delas chegou a perguntar se eu não iria ligar as trompas após Antonio nascer, uma vez que – em sua visão – era muito arriscado eu ter filhos.
Comecei a me sentir uma espécie de doente terminal. Só de exames, encheu-se uma pasta: mais de quinze ultrassons mapeando o estado da criança (sempre perfeita e posicionada para nascer normalmente), parecer cardiológico, hemogramas variados, e uma série absurda de umas cinco curvas glicêmicas feitas ao longo de um único mês (pra quem não sabe o que é, trata-se de um exame chatíssimo que obriga a pessoa a coletar sangue várias vezes ao longo do dia, para medir o nível de açúcar). Me sentia sempre cansada – em grande parte, por causa de uma anemia crônica causada pela gastroplastia que fiz há quatro anos, problema que se intensificou à medida que Antonio crescia. A médica, e Leo, por tabela, começaram a agir como se eu não tivesse condições de fazer nada e como se a cesárea fosse minha única opção para “desovar” a criança. E eu comecei a embarcar nessa onda, é claro. Uma mentira repetida várias vezes acaba virando verdade...
Mas, no fundo, eu não aceitava que as coisas se resolvessem assim.
Continuei freqüentando o Boa Hora e participando das comunidades no Orkut, e quando as pessoas insistiam que eu trocasse de médico, ficava irritada: como faria isso, sem dinheiro? Li um comentário em algum lugar mensurando os custos de um parto domiciliar com um médico famoso, em São Paulo, e o preço ultrapassava dez mil reais: sem chance pra mim. Comecei a internalizar a idéia de que, “um dia”, “no próximo filho”, “quando tivesse me planejado e poupado pra isso”, teria um VBAC (parto normal após cesárea). A sugestão que alguns me davam de que fosse tentar parir num hospital público também me desagradava, e após a última greve que houve aqui em Pernambuco, a sensação foi intensificada quando passaram na tevê várias entrevistas com mulheres que em pleno trabalho de parto não conseguiam vaga em lugar nenhum.
Comentando com Dan, ela me sugeriu novamente que procurasse Melania Amorim e Leila Katz. Consegui o contato de Melania no Orkut, deixei um recado pra ela e marquei uma consulta. Quando Leo soube, falou tanto que era absurdo gastar com um outro médico quando a gente tinha plano de saúde, que voltei do meio do caminho e deixei Mel esperando, sem explicação.
Dan foi insistente, e algum tempo depois acabei marcando com Leila, “só pra ouvir dela que o meu caso era de cesárea mesmo”. Leo foi comigo, meio a contragosto, após insistência de Leila, que disse ser muito importante a presença e apoio do marido – e ele, que havia estado comigo em cada consulta e cada exame até então, não poderia mesmo estar ausente.
Mas, no fundo, eu não aceitava que as coisas se resolvessem assim.
Continuei freqüentando o Boa Hora e participando das comunidades no Orkut, e quando as pessoas insistiam que eu trocasse de médico, ficava irritada: como faria isso, sem dinheiro? Li um comentário em algum lugar mensurando os custos de um parto domiciliar com um médico famoso, em São Paulo, e o preço ultrapassava dez mil reais: sem chance pra mim. Comecei a internalizar a idéia de que, “um dia”, “no próximo filho”, “quando tivesse me planejado e poupado pra isso”, teria um VBAC (parto normal após cesárea). A sugestão que alguns me davam de que fosse tentar parir num hospital público também me desagradava, e após a última greve que houve aqui em Pernambuco, a sensação foi intensificada quando passaram na tevê várias entrevistas com mulheres que em pleno trabalho de parto não conseguiam vaga em lugar nenhum.
Comentando com Dan, ela me sugeriu novamente que procurasse Melania Amorim e Leila Katz. Consegui o contato de Melania no Orkut, deixei um recado pra ela e marquei uma consulta. Quando Leo soube, falou tanto que era absurdo gastar com um outro médico quando a gente tinha plano de saúde, que voltei do meio do caminho e deixei Mel esperando, sem explicação.
Dan foi insistente, e algum tempo depois acabei marcando com Leila, “só pra ouvir dela que o meu caso era de cesárea mesmo”. Leo foi comigo, meio a contragosto, após insistência de Leila, que disse ser muito importante a presença e apoio do marido – e ele, que havia estado comigo em cada consulta e cada exame até então, não poderia mesmo estar ausente.
O primeiro impacto foi chegar a um consultório quase vazio – num mau sentido, o da obstetra anterior parecia sala do SUS de tão lotada, e pra gente a sensação que dava é que tentava ganhar na quantidade e não na qualidade dos atendimentos. Leila passou quase duas horas conversando conosco, fazendo uma anamnese completa não só de meu histórico de saúde, mas da minha família toda e até da de Leo. Tinha um jeito tão tranqüilo que, ao aferir minha pressão, ela acabava caindo pra casa dos 11 x 6 ou perto disso. Fez gozação da quantidade de exames que eu tinha feito, ouviu o relato das minhas mazelas e foi categórica: uma pessoa com anemia não pode perder muito sangue, alguém com diabetes não deve cortar sete camadas de barriga se puder evitar, pressão alta não é por si mesma indicação de cesárea. Examinou os exames todos e constatou que eu NÃO era diabética, NÃO era velha nem gorda demais para ter um bebê, NÃO tinha pressão que justificasse tamanho alarde. “Você tem todas as condições para ter um parto normal”, me assegurou. Fez um exame de toque em mim e soltou a frase que começou a mudar o padrão do que vinha ouvindo até então: “seu colo é maravilhoso, poucas mulheres são assim na primeira gravidez”. Então, eu tinha algo de bom...
Ela ainda conversou sobre como seria possível parcelar o parto, dentro das minhas condições – e o valor, graças a Deus, não era nem perto do que eu temia. De repente, comecei a ver que seria possível, sim, ter meu filho do jeitinho que eu queria.
Leo foi embora meio calado, ruminando o encontro.
Ela ainda conversou sobre como seria possível parcelar o parto, dentro das minhas condições – e o valor, graças a Deus, não era nem perto do que eu temia. De repente, comecei a ver que seria possível, sim, ter meu filho do jeitinho que eu queria.
Leo foi embora meio calado, ruminando o encontro.
Leila viajou para defender a tese de doutorado em Campinas e nós decidimos só “romper” com a médica anterior após sua volta, com medo de eu passar mal no meio tempo e ficar sem assistência. Foi justamente o tempo de haver a “última consulta”: a dita cuja afirmou com todas as letras que, “por causa da minha diabetes e hipertensão”, não haveria outro jeito e a cesárea seria marcada para semana seguinte, no dia 19 de setembro – que depois descobri ser o dia mais conveniente para ela, para não perder consultório e operar “no atacado” várias pacientes, poupando tempo e ganhando mais dinheiro. Dois detalhes me irritaram muito: Antonio teria então cerca de 36 semanas de gestação e, assim, seria um risco muito elevado dele ser prematuro, e ela só queria operar na pior maternidade do meu plano de saúde, onde existem vários relatos de infecção hospitalar e até óbitos, simplesmente pelo fato de ser mais perto e cômodo para ela.
Saí calada, fervendo de ódio. A redenção se deu no lado de fora: Leo estava, finalmente, com tanta raiva quanto eu. Nunca mais pusemos os pés no consultório dessa “profissional”, que nos aguarda até hoje para “marcar o parto”. Nesse dia, eu cantava por dentro: tudo o que queria era que Leo se aliasse a mim, nesse projeto.
Só que não tive tempo de relaxar nem ficar feliz: nessa mesma semana, descobri que meu plano de saúde havia descredenciado o único hospital próximo de minha casa que tinha alguma qualidade no atendimento. Ou eu ia parir em Olinda, bem distante daqui, ou me sujeitava à tal maternidade ruim que a médica anterior queria que eu utilizasse. Corri imediatamente para uma entidade chamada Aduseps - Associação de Defesa dos Usuários de Planos de Saúde (sim, isso existe), contactei os advogados de lá, instauramos uma ação e conseguimos, após alguns dias, uma liminar obrigando o plano a pagar todas as custas do parto no hospital que eu queria. Isso não foi feito sem stress, numa época da gravidez em que tudo que eu queria era descansar e dar os últimos retoques no quartinho do nenê. Enfim, com 39 semanas e pouco, a liminar estava em minhas mãos e nada mais restava que não aguardar o dia D.
Saí calada, fervendo de ódio. A redenção se deu no lado de fora: Leo estava, finalmente, com tanta raiva quanto eu. Nunca mais pusemos os pés no consultório dessa “profissional”, que nos aguarda até hoje para “marcar o parto”. Nesse dia, eu cantava por dentro: tudo o que queria era que Leo se aliasse a mim, nesse projeto.
Só que não tive tempo de relaxar nem ficar feliz: nessa mesma semana, descobri que meu plano de saúde havia descredenciado o único hospital próximo de minha casa que tinha alguma qualidade no atendimento. Ou eu ia parir em Olinda, bem distante daqui, ou me sujeitava à tal maternidade ruim que a médica anterior queria que eu utilizasse. Corri imediatamente para uma entidade chamada Aduseps - Associação de Defesa dos Usuários de Planos de Saúde (sim, isso existe), contactei os advogados de lá, instauramos uma ação e conseguimos, após alguns dias, uma liminar obrigando o plano a pagar todas as custas do parto no hospital que eu queria. Isso não foi feito sem stress, numa época da gravidez em que tudo que eu queria era descansar e dar os últimos retoques no quartinho do nenê. Enfim, com 39 semanas e pouco, a liminar estava em minhas mãos e nada mais restava que não aguardar o dia D.
As consultas com Leila, a essa altura do campeonato, eram semanais, para compensar a falta de contato no início do pré-natal e para mapear com precisão a evolução da gravidez. Ela fez propaganda do meu colo “macio” e “apagado” para várias conhecidas minhas, e a três semanas do parto eu já tinha mais de dois centímetros de dilatação. Escrevi meu plano de parto, ousando verbalizar meus desejos a respeito dos procedimentos. Preparei as malas e uma lista de telefones e instruções para Leo, pensando que ficaria desesperado no dia, sem condições de tomar nenhuma decisão. Sem que ele soubesse, falei com Dan, que se dispôs a ser minha doula, e pedi para que assim que o trabalho de parto começasse, estivesse conosco o mais cedo possível, já que se tratava de dois marinheiros de primeira viagem sem muito suporte familiar nem transporte. Eu tinha medo inclusive da pressão dele subir, no meio do processo.
Pois no domingo, sete de outubro, com 40 semanas de gestação completas e após alguns alarmes falsos mal-interpretados pela novata no assunto, começaram realmente as primeiras contrações. Era madrugada, e cutuquei Leo. “Minha barriga está doendo”. Calado estava, calado ficou. “Leo, tá doendo”, insisti. “Já estourou alguma coisa?”, quis saber ele. Diante da negativa, virou de lado e dormiu. E eu fiquei até de manhã, tentando contar o período entre as contrações, esperando dar uma hora decente pra ligar e avisar a Dan, Leila, Melania e Thay, que também se ofereceu para ser minha doula.
1 comentários:
Nossa muito linda sua história! Encontrei seu blog por acaso (estou grávida de 3 meses) e depois pelas fotos te reconheci da Waldorf. Enfim, queria dizer que amei seus textos, obrigada por compartilhar!
bj,
Andrea (mae de Iuri da sala de Nalva)
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