Álibi

Estou com ele no carro, no trânsito, janelas fechadas e ar ligado, e sinto o cheiro mais fétido que poderia imaginar.
"Antonio, você peidou?", berro sufocada.
"Não, foi Pucca!" , desconversa ele.
"Filho, Pucca está lá em casa" (a quilômetros dali).
"E o peido dela tá fedendo até aqui!"
Como dizia minha sábia mãe: onde tem cachorro, as pessoas não peidam!.

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Planos

“Mamãe, a gente chama titio Gabiel... e Loíza, e o bebê Gutávo... e Julia... e tia Rezina... e chama vovô Césso... Aí a gente faz uma festa, aí canta parabéns... Aí tem um monte de brigadeiro pra Antonio comer, né?”

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Chocólatra

Antonio está gordinho e, com os antecedentes familiares, a gente acha melhor não dar muita porcaria pra ele. O resultado é que quando vai às festinhas, o menino tem feito a gente passar vergonha! Uma paixão são as coxinhas, daquelas pequeninhas de bufê. Numa festa na casa do tio Gabriel ele enfiou quatro (!) de uma vez na boca, decerto pra não precisar parar de correr e ao mesmo tempo garantir a parte dele. O tio "nem" registrou o fato para a posteridade, e "nem" vai tirar onda da cara dele até Antonio fazer uns 50 anos...


Mas o que ele gosta mesmo é de doce. Ele ama chicolate, então brigadeiro é a comida dos sonhos. E, pra lascar, dezembro está sendo um mês socialmente movimentado, com os aniversários de Marina, Vital, Belinha e Gabi já previamente agendados...

Mamãe passou vexame no aniversário de Marina. Os doces ficavam dispostos numa imensa e linda mesa de guloseimas, que meu pequeno Godzilla prontamente tentou destroçar. Eu perdi as contas de quantos brigadeiros ele comeu; pra piorar, quando ele come chocolate fica frenético, o próprio Mr. Hyde do médico e o monstro... ai, ai ... Quando não estava comendo brigadeiros, ele estava ameaçando pular na piscina ou escalar uma mureta que dava pro vazio (o salão de festas ficava na cobertura de um prédio de seus 20 andares), então vocês imaginam como foi legal tomar conta desta crionça.

Ontem, foi aniversário de Vital. E o esquema da festa não era deixar os doces todos à vista, mas sendo servidos por um garçom. Nem por isso Antonio se apertou. Primeiro, comeu os dois brigadeiros que estavam no prato da mesa da gente. Depois, "foi brincar": tinha teatro de bonecos, pula pula, piscina de bolinhas e um monte de crianças pra ele interagir, e eu de longe olhando o movimento...

.. só percebi que ele passou em todas as outras mesas da festa, bem sorrateiramente, quando ele já havia comido praticamente todos os brigadeiros disponíveis no recinto. Briguei com ele, que "foi brincar" de novo. Quinze minutos depois, só vejo a cabecinha do danado passando pra dentro da sala onde os garçons abasteciam as bandejas. Já tinha descoberto a caixa onde todos os brigadeiros eram guardados, e estava lá, tirando a barriga da miséria. Eu entrei, proibi o garçom (morto de rir) de dar mais brigadeiros a ele.

Aí, ele "foi brincar"...

Meia hora depois, Antonio chegou junto de mim, bem amoroso... Me deu um beijo, um abraço e disse, mãe, faz assim!, e mostrou o polegar em sinal de positivo. Eu fiz, mas só entendi quando vi o homem do bufê gesticulando, lá de longe pra mim: é pra dar brigadeiro a ele, mesmo?

No fim da festa, saímos junto com um dos garçons. Antonio abraçou ele, todo feliz: tchau, brigadeiro! Eu saí roxa de vergonha, com o homem dando gargalhadas e dando tchau, brigadeiro! do outro lado.

PS - A fotinha que ilustra o post foi tirada no terceiro aniversário dele. Adivinha o que foi que ele detonou, durante a festa?

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Se meu fusca falasse...

Não sei se vocês sabem, mas a coisa que Antonio mais gosta no mundo - depois da mamãe - é fusca. Bom, de repente até ele gosta igual, huahauha.

Ele vibra loucamente, cada vez que vê um. Por causa dos fuscas, ele aprendeu palavras novas - como bege - e tenta falar corretamente brrrrrrrranco (que às vezes sai banco ou blanco). Qualquer fusca de qualquer cor já é uma alegria; mas, na rua de trás de casa tem um fusquinha vermelho estacionado, e cada vez que ele passa dá berros de felicidade.

Já pediu até um fuquinha vemêlho de presente pra Papai Noel.

Pois esta semana passou um filme do Herbie na tevê. Ele assistiu de cabo a rabo, acompanhando o enredo como raras vezes faz. Ficou triste de ver o Rébly jogado no lixo e urrou de emoção quando o fusca ganhou a corrida. Há dias que fala do filme, das cenas do filme, das coisas que o Rébly fez, e insiste que quer ver de novo (mesmo eu explicando que não é toda hora que o filme está passando na tv).

E agora, será que acho algum Rébly vermelho pra vender até o Natal? ;.)

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E essa agora?

Por ele, todo banho seria hora de abrir um sabonete novo. Ele aaaama destroçar a embalagem e pegar a barrinha intocada, preciso esconder os sabonetes pra ele não ficar pegando o tempo todo.

Bom... Ontem eu chego em casa com compras, ele olha e dá logo o berro - 'IFEBÓI!  A marca do sabonete, Lifebuoy, piscando pra mim.

Ele deve ter visto na televisão ou coisa parecida, mas me assombra que um pirralho de três anos distinga uma embalagem de Lifebuoy das outras, e tinha outros sabonetes de outras marcas no mesmo pacote. Posso com isso?

Ah, ele já abriu e quer que o 'IFEBÓI seja só dele, claro.

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Pequeno Calvin

Há anos eu ria com as histórias do menininho treloso e imaginativo, mas não pensava em conviver com o "meu" próprio pestinha. Vejam aí se eu já não posso enviar ideias pro roteirista...

1) Ligo pra casa (sempre ligo) na hora do almoço. Antonio corre e pega o telefone e já vai entregando o serviço, aos berros: "Mamãããe... Papai botou cocô pra Antonio comer!" Três minutos de suspense até o pai vir explicar a iguaria no prato do menino. Na verdade, o aspecto do fígado que Leo prepara não é mesmo muito apetitoso. Eu não como. Nem Antonio, pelo visto.

2) Num segundinho em que vou ao banheiro e Leo dá bobeira no quarto, acabamos flagrando o anjinho com um garfo, tentando enfiar na tomada. Sorte que o encaixe-padrão não é muito compatível, huahauaha.

3) No carro, eu dirigindo, ele sentado atrás. "Rssss", morre de rir. "Rsssxxmmxxxxrss", ri mais. "O que foi, Antonio?", resolvo eu perguntar. Ele estira a língua e se entrega: "Eu tou chupando uma moeda".

4) Leo vai preparar uma sopa, ou feijão, ou algo do gênero. Longe do fogo, que Antonio aqui em casa está barrado de cozinha com fogão ligado. Leo levanta da mesa, dá bobeira por cinco segundos... e quando vai botar a panela pra cozinhar, dá de cara com um lindo ingrediente secreto: uma banana inteira, com casca e tudo! RATATOUILLE, hehehe.

5) Seis da matina, mamãe dorme feliz. Ele se esgueira pela cama, chega juntinho e mamãe só ouve algo como "eu vou pegar o tetê". Sinto uma mãozinha deslizando pela alça da camisola... e acordo de um pulo, aos berros, com um pregador de roupa preso no bico do peito.

6) A qualquer bobeira, ele vai pra janela e joga coisinhas pra pariceira Puca: sapato, brigadeiro, inhame cru, potinho lambido de iogurte... 

7) Trocou de salinha na escola; passou do maternalzinho, mais protegido e de porta mais controlada, pro jardim. A professora me contou que quase todo dia ele FOGE e corre pela escola inteira: visita a salinha antiga, a secretaria, a cozinha, o parquinho, dá olé em três ou quatro adultos e, depois que todo mundo o persegue bastante, é resgatado e volta, todo suado e feliz, pro local de partida. Juro que agora entendi o estado lamentável que ele tem chegado em casa, praticamente todo dia...

8) Ontem ele botou um saco na cabeça e uma camiseta no pescoço e saiu gritando que é um 'pererói' e que voa mais alto que um 'pájaru' em cima das 'ávules'. Prevejo proezas, ideia de jerico é com ele mesmo!

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Dodói

Três dias de febre e moleza e dor de garganta, e o menino acordou todo pintado. Corri pro médico, achando que poderia ser rubéola ou dengue. Não era, era roseóla, de que eu nunca tinha ouvido falar mas me deixou bem assustada.

Tadinho, teve que tirar sangue duas vezes.

Mas já tá quase pronto pra outra...

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Passeio no castelo de Brennand

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Personal stylist

Mamãe vai ao salão e volta com as unhas pintadas de uma cor diferente, meio dourada. Filhote reclama na mesma hora: "não gotei da unha lalanza, mamãe, unha de menina é rosa".

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Amor desinteressado

Eu chego do trabalho, ele ouve o portão ranger e sai correndo e gritando:
-Mamãe! Mamãe! Meu amor, minha querida! Minha linda! O que foi que você trouxe pra Antonio?

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Diálogo

Mamãe resolve ser peitica e provocar o filhote.

- Antonio é chato!

- Chato não, mamãe, chato é feio, chato é palavrão.

- Antonio é bobo!

- Bobo não, mamãe. Não fale isso. Bobo é feio, é palavrão.

- Antonio é fofolento (= fedorento em antonês).

- Sou fofolento não, mamãe. Fofolento é feio, é palavrão!

-Antonio é cara de cueca!

- Cara de cueca não, mãe! Pare com isso! É palavrão!

- Antonio é mijão!

- Mijão, não! Não pode falar palavrão, PORRA, CARALHO, FILA DA PUTA!

Pois é, ele aprende rápido.

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Farristinha

Faz quinze dias que Antonio cantava sozinho, "é de cravo, é de rosa, é de manjericão", "o balão vai subindo, vai caindo a garoa" e outros hits juninos... E perguntando quando é que ia ver uma fogueira...

Até que - ontem - chegou o dia da festa na escolinha. Quase que desistimos de levar: tava meio molinho, reclamando do ouvido direito e manco do pé esquerdo. Mamãe-ninja levou na urgência pediátrica, viram que não tinha nenhum problema mais sério e, contra a vontade de Leo, fomos todos.

Ah, como valeu a pena!

Ele revelou-se um excelente pé de valsa e, nas pausas da dança, parava no salão pra encarar o zabumbeiro, encantado com a música. O pé manco foi só um detalhe, ele criou uma coreografia própria e contornou o problema. Foi embora arrastado, porque o pai estava cansado, mas por ele tinha entrado pela noite, huahuahauaha.

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"Bandeira do sol"

A expressão é dele. A camisa, todo conterrâneo ufanista conhece - salve, ó terra dos altos coqueiros, de beleza, soberbo estendal, nova Roma de bravos guerreiros, Pernambuco, imortal, imortal!

(Nas imagens acima, ele tava indo pra escola, às sete da manhã. Lá não usam uniforme e pedem que não se utilize mochilas de marca, etc. A da foto foi feita por nós)

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Vexames

Criança é fogo, fala o que pensa e na lata. Antonio me aprontou logo duas esta semana, pra me matar de vergonha...

Na padaria, bem alto e claramente, de uma forma que não dava pra fingir que ele estava dizendo outra coisa, virou pra uma mulher que estava na fila dos caixas, apontou pros países baixos dela (bem no nível do rosto dele, coitado), e berrou: "VOCÊ ESTÁ FEDENDO NA PICOTA" (que é como ele chama aquilo que vocês estão adivinhando o que é).

Ontem veio um tio visitar a gente. Ele é meio arisco com gente estranha, mas ficou surpreendentemente amoroso, puxando a barba e alisando a barriga do recém-chegado. De repente, a explicação pra tanto carinho: com um sorriso de alegria, deu vários vivas ao PAPAI NOEL.

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Semiótica em construção

Aos poucos ele vai expandindo o vocabulário, criando palavras novas, e eu me divirto. Das cores, sabe os nomes mas confunde qual é qual. A menos que esteja falando das "suas" cores, aquelas a quem nomeou: qualquer objeto rosa é "UNIQUA", esse bicho estranho dos Backyardigans; da mesma forma, laranja ou salmão é "TYRONE", do mesmo desenho; e se foi preto ou azul marinho, o nome da cor é "NOITE".

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Falcão Azul e o Bionicão

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Estreia

Domingo levei-o ao cinema, pela primeira vez. Sessão das 12h, eu crente que ele ia dormir. Adorou a poltrona, tomou susto quando a luz apagou mas gostou da "tevisão gandona". Comeu pão de queijo, bebeu água e comportou-se como um gentleman até os dois primeiros dois terços do filme.
Depois enlouqueceu.
Correu pelo cinema, deu urros e gritos como os dragões, excitado, por quinze minutos inteiros. Foi embora aos pulos.
Meia hora depois caiu duro no carrinho do supermercado, roncando o sono dos justos...

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Zebrinha bem azeitada

Na livraria, folheando um livrinho sobre animais da selva:
-Olha aqui, Antonio! Este é um maaa...
-...caco!
-E este é a gi...
-...rrafa! - (com dois rr, hehhe).
-E este é o e...
-...lofante!
-E esta aqui é a ze...
-...tona!

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Atual música favorita (veja abaixo a versão dele)

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Temos um mundo inteiro no nosso quintaaaal...

Antonio se preparando pro carnaval. Duro vai ser trocar de roupa até lá...

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Recomeçando das cinzas

Vou recompondo a paisagem

Lembro um flamboyant vermelho

No desmantelo da tarde...

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