Durante toda a gravidez, a única coisa que eu tinha absoluta certeza de que seria capaz, era amamentar. Tanto que comecei a me organizar pra estocar leite quando voltasse a trabalhar, ganhei bomba elétrica de presente, passei bepantol nos mamilos... Achava estranho não ter nenhum colostro já com nove meses, mas Leila (a obtetra) me disse ser normal.
Quando ele está com MUITA fome, não tem paciência pra ficar no peito e reclama um bocado, querendo logo encher a pança, o mais rápido possível.
Quando Antonio nasceu, o colostro demorou a descer, mínimo, mínimo. Leila continuou dizendo ser normal. Foi pro peito assim que nasceu, mamando com gosto. Pegou bem, de primeira.
Só que meu leite não vinha...
Fiquei quatro dias internada no hospital, brigando com o pessoal do berçário que queria dar leite "de lata" a ele, e bem no Dia das Crianças tivemos alta, e fomos pra casa. Era um feriadão, e começou nosso inferno.
O pobrezinho chorou três dias seguidos, esfolou o bico do meu peito, ficou sem fazer xixi nem cocô e de moleira "baixa" (sinais de desidratação). Eu chorava do outro lado, numa mistura de desespero e baby blues. Consultada via celular, Dani (a pediatra) deu o ultimato: compre uma lata de Nan e dê no copinho de cachaça. Eu me senti conspurcando o corpinho do meu filho, mas dei. E ele, com menos de uma semana de vida, bebeu no copo com habilidade de mestre.
Na segunda feira, corri para o banco de leite do Imip, onde não acharam explicação para o fato além de uma anemia crônica e séria, mas verificaram que eu tinha realmente pouco leite pra demanda do menino. Mantiveram a ingestão de leite Nan, para minha tristeza. Sempre no copo e não na mamadeira, para que ele não largasse o peito.
Chorei três dias, desiludida, me sentindo incapaz e frustrada. Leo aprendeu rapidinho a dar leite no copo (amamentar era a única coisa que "só eu" podia fazer pra Antonio) e começou, sem querer, a minar meu desejo de dar de mamar. Acordava rapidinho de madrugada, "pra não deixar o bichinho chorando", e tacava leite no menino.
Aí, me surpreendeu a esperteza de Antonio.
Quando ele está com MUITA fome, não tem paciência pra ficar no peito e reclama um bocado, querendo logo encher a pança, o mais rápido possível.
Mas, na maior parte das vezes, ele prefere o peito.
Não foi uma nem duas vezes que eu o vi chutar o copo das mãos do pai, irritadíssimo. A gente já aprendeu como deve ser o esquema, dependendo da fome que ele estiver sentindo.
Normalmente, durante o dia, o peito serve de aperitivo e chupeta. À noite, para horror dos certinhos, tiro ele do berço e a última mamada ele dá agarradinho comigo na minha cama, os dois dormindo e acordando sem ele largar o bico.
Só quem deu de mamar sabe o tanto de ternura que se pode ter nesses momentos. Ele passa uma perninha por cima de mim, pra que eu não fuja (!) ou, mais provavelmente, pra ter mais apoio. Dá umas fungadas, sentindo meu cheiro, e às vezes até suspira. Com uma mão, dá apertinhos na minha cintura; com a outra, alisa o peito. Não tira os olhos dos meus um segundo, e é um olhar doce, tão doce, que não canso de encarar de volta. Aí ele ri, e larga o peito. Ri a madrugada toda e é aquele sorriso banguela que recompensa a gente pelas noites mal dormidas. Acorda todo suado do esforço e não faço idéia de quanto leite realmente consegue consumir. Mas tenho certeza de que não vai desistir tão cedo, e que peito de mãe, graças a Deus, não é só comida - e o resto, o mais importante, ele tem achado, sim.
Nota 1: hoje é 01 de agosto de 2008, Dia Mundial da Amamentação. Antonio tem quase dez meses e continua adorando os peitinhos dele. Agradeço a ele pela persistência em mamar, que me proporcionou mais uma experiência maravilhosa! Quem quiser ver fotos atualizadas do meu mamífero, clique aqui.
Nota 2: hoje é 17 de maio de 2010, e para horror de alguns, aos dois anos e meio Antonio continua mamando e fã dos "tetês". Dá indícios de desmame, que espero que se dê de forma tranquila. Jamais pôs bico de latex na boca, seja chupeta ou mamadeira. Mamãe sente-se vitoriosa. Mas os méritos maiores foram dele.
Nota 3: Antonio oficialmente desmamado. Aos três anos e meio! Vitória. :)
Nota 3: Antonio oficialmente desmamado. Aos três anos e meio! Vitória. :)
4 comentários:
Que genial todo o seu processo, Mariana! Uma pena tanta confusão, tanto esforço pra uma coisa que podia e devia ser natural, mas que bom que você é essa mulher guerreira e foi ter seu filho do seu jeitinho!
Boa sorte e bons dias pra vocês!
beijo, Maria
Que visita boa...É isso aí, Maricota.
Mas é tanta pressão, que a gente fica se sentindo pior que uma cachorra viralata (nunca conheci nenhuma que não conseguisse dar de mamar aos filhotes). Que inveja delas!
;.)
Depois comecei a dar graças a Deus que existe Nan e o processo todo vai bem além disso...
Beijo.
Mariana, eu passei pela mesma dor e frustração. A imagem que se passa é que toda mulher pode amamentar às mil maravilhas. E nem sempre é assim. DE modo que além da dor e frustração, ainda tem o olhar dos outros que olham como se vc fosse um monstro que não quer dar o peito ao filho. Não sei se aconteceu assim com vc. Mas muitas vezes senti esse olhar inquiridor, na maioria das vezes de outras mães. Também consegui amamentar ao meu modo e isso foi uma vitória incrível pra mim que nunca pensei que uma lata de leite em pó pudesse causar tanta dor. Na contabilidade final, aprendi que nem toda mulher é uma madona amamentando o menino Jesus, no sétimo céu, em estado de graça. Muitas, como nós, passam por processos difíceis em nem sempre recebem o acolhimento que precisam. Eu tive a sorte de contar com uma família maravilhosa além de uma parteira e pediatra neonatal que estiveram do meu lado durante todo o período mais trash e depois dele. Mas quantas não têm acesso a isso e passam a vida se culpando?
Desculpa o comment longo. Esse tema ainda me mobiliza pra caramba. Amei sua visita lá no Pacha Mama!
beijos!
adorei a foto
Fabiola
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